AMARmentar – Nosso Desmame Gentil

Essas fotos são um presente sem tamanho que eu ganhei. Resolvi postar em meio ao processo de desmame, que vem acontecendo nos últimos dias por aqui, após 739 dias de amamentação – pouco mais de 2 anos.

Registros diferentes de tudo o que eu tenho, um olhar jornalístico, com uma sensibilidade diferente. A responsável é a fotógrafa Tais Peyneau, que tem o projeto AMARMENTAR, pelo qual coleciona registros dessa rotina especial que a maternidade pode proporcionar a nós, mães. E no dia Internacional da Amamentação, a partir do post que fiz no Instagram com o meu relato sobre o assunto, ela me convidou a participar desse lindo projeto.

Segue o meu texto sobre amamentação escolhido pela Tais, com as fotos que tiramos aqui em casa, no final de uma sexta-feira, depois que cheguei do trabalho. Mais abaixo, conto minhas impressões atuais, em pleno processo de desmame.

O texto: 
“Taí um assunto que me fez morder a língua! #Amamentação 🤱🏻 Antes mesmo de engravidar, achava que amamentaria, no máximo, até os 6 meses (o que já seria ótimo). Jurava que não teria forças para resistir a todas as incontáveis dificuldades que permeiam esse tema. 🤦🏻‍♀️ Pensava que ia querer recuperar logo a “autonomia” que tinha sobre o meu peito. Tinha certeza que morreria de vergonha de amamentar em público. Achava estranho crianças já grandes ainda mamando no peito (ok, isso ainda acho um pouco, porém já entendo melhor a mãe que passa por isso). Mas se passaram quase 18 meses e estou aqui, ainda #lactante! 🐮 

Fiz isso por ela, claro. Mas por mim também. 
Não teria problema nenhum em dar fórmula para minha bebê desde #RN, mas acabou não sendo necessário. 🍼 
Como meu leite demorou 3 dias pra “descer” (#apojadura) e eu quase não tive #colostro, cheguei a comprar uma lata de leite artificial. Sem nenhum grilo e zero culpa MESMO – queria ver minha filha alimentada, afinal isso que é AMAR. 
Mas quando meu leite veio, veio com tudo e a minha irmã fez a gentileza de trocar pra mim a lata de leite na farmácia. Claro que fiquei feliz em poder fazer o #AleitamentoMaternoExclusivo, claro que me realizei com isso e fui tomando cada vez mais gosto por esse carinho.

Usei bico de silicone no início (me ajudou MUITO, por mais que muita gente critique), concha rígida pra fazer o bico, tive fissuras, morri de dor, fui na Lua e voltei, sangrei, empedrei, tive mastite depois de 1 ano – foram várias situações que me convidavam a parar. Não é mole não!!! Mas segui firme, com muita ajuda da minha querida obstetra @isalucena19 . Obrigada!!! Apoio e informação são TUDO!

Amamentar é um ato de amor, seja o LEITE QUE FOR. (Seja leite materno ou artificial – amor que não se mede e não se compara. Experiências podem ser compartilhadas sem que haja julgamentos ou imposições do que seja a melhor alternativa. Cada mamãe sabe o que é melhor – e possível – para si e seu bebê.)!”.

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O desmame:

Depois de 2 anos de amamentação (mais do que prolongada), já estava decidida pelo desmame, mas não sabia como implementar.

Na verdade, sempre tive o pensamento que minha bebê poderia, simplesmente, parar de demandar, como várias mães dizem acontecer naturalmente. Mas ela nunca deu sinais que um dia isso aconteceria.

Quando comecei a ler sobre o assunto, vi dicas pra colocar band-aid, esparadrapo, passar própolis, café… estava quase me rendendo a uma dessas alternativas. Mas resolvi tentar fazer ainda mais “gentilmente”, se podemos assim dizer. Fomos por etapas, sem antecipar e forçar nada.

Primeiro, quando ela tinha pouco menos de 1 ano e meio, decidi fazer o desmame noturno. Ela ainda acordava muito pra mamar no peito e isso estava me deixando exausta. Então, comecei a explicar que o “peitinho” estava acabando e, em uma determinada noite, resolvi que ofereceria mamadeira, colo, muito carinho e até a cama compartilhada (o que eu adoro, confesso), mas não amamentaria mais.

Na primeira noite, tentei que fosse o meu marido a acalmá-la, mas isso a deixou mais nervosa. Fui eu mesma, então. Ela chorou, pediu, insistiu, jogou a mamadeira longe, mas acabou adormecendo. Na segunda noite, tudo igual. Na terceira, já aceitou a mamadeira. Na quarta, mais fácil ainda. E quando vimos, já tinha absorvido que o “peitinho” não existia mais na madrugada. Pra completar, ela passou a dormir a noite inteira! Ufa!

Dizem que para introduzir um novo hábito, são necessários 3 dias repetindo o mesmo procedimento com a criança. Dito e feito. Comigo deu certo.

Mas o desmame definitivo me parecia tãaaao longe, especialmente quando eu chegava em casa do trabalho (ou nos dias em que conseguia buscá-la na creche). O sorriso bem grande quando me via era seguido de um abraço apertado e da frase: “mamãe, qué peitinho”. Como resistir? Não a via preparada. Nem a mim.

Reduzi as mamadas – que a essa altura do campeonato eu já chamava de chupetas humanas, porque duvido que saia alguma coisa de leite – a uma vez ao dia e já conseguia desconversar quando ela ensaiava pedir. Percebia que ela pedia mais por hábito do que por uma real necessidade (mesmo que afetiva).

Tive certeza que estávamos no caminho certo para o desmame quando notei que a musiquinha suave que eu costumo colocar seria suficiente para adormecê-la. Já é o nosso sinal pro soninho chegar. E ela já internalizou tanto essa nossa rotina, que faz as “filhas” dormirem do mesmo jeito – pede a musiquinha e fecha os olhinhos, embalando as bonequinhas. Pronto. Era tudo o que eu precisava saber.

Hoje completa 1 semana da última mamada. Não sei se estou cantando vitória antes da hora, porque ela não esqueceu. Ainda pede, com um jeitinho meio sem graça, sabendo que vai ouvir um não. Às vezes até muda o pedido no meio da frase, desconversando, “qué pei… mamadeira”, mesmo depois de ter tomado uma inteirinha, só pra ainda ter o que dizer, rs. Difícil resistir.

É preciso ser firme, mas com muita doçura. Ter empatia. Saber se colocar no lugar de uma criancinha de 2 anos que não imaginava que teria que parar de mamar um dia, que curte a beça esse momento com a mamãe dela, que tem nesse carinho um porto seguro. É preciso demonstrar que o colo da mamãe será sempre dela mesmo sem o peitinho e que essa sensação de segurança é inabalável.

Foi maravilhoso, profundo, intenso, emocionante, com muitas trocas, olhares, risos e carinhos. Não me arrependo nem por um segundo, foi um presente, uma dádiva que eu jamais imaginei receber.

Ao mesmo tempo que é libertador, não é fácil virar essa página pra quem faz uma amamentação prolongada desse jeito. Realizar que aquele momentinho tão nosso está chegando ao seu fim faz meu coração apertar. Aceitar que um novo capítulo da nossa história está começando provoca uma leve nostalgia, tipo a sensação de quando olhamos uma foto de um ano atrás e nos damos conta que não sentimos esse tempo passar.

Essa experiência provocou transformações reveladoras em mim, foi rica também pra ela, faz parte da nossa história e eu vou sempre amar contar.

Que venham novas páginas em branco!